Mais da metade da população urbana de Jordão se locomove por meio de barcos e quem mora na reserva extrativista depende exclusivamente deste meio de transporte, como explica Abel Paulino Kaxinawá, de 41 anos. Sua locomoção pelo rio tem sido difícil e arriscada devido ao excesso de balseiros (balsa grande) no caminho, que provocam encalhamentos e prejudicam o fluxo de embarcações. “Nós temos que arrastar o barco pra chegar onde queremos”, conta Abel.
As condições adversas do trajeto obrigam barqueiros a descerem e empurrarem seus barcos até que eles saiam do lugar. Segundo Abel, nos últimos anos, o processo de mudanças climáticas impactou diretamente as condições atuais em que o rio se encontra, deixando inúmeras famílias com dificuldade de locomoção à espera da cheia do rio. “Não temos BR, esse é o jeito que nós temos de nos locomover", lamenta.
Maria Luzia é moradora da Comunidade Jaminawa, na Resex Alto Tarauacá, e junto de sua família também tem observado as mudanças fluviais. “Eu tenho 35 anos e de três anos pra cá notei que o rio está cada vez mais seco”. Na visão da extrativista, é muito difícil transportar alimentos e os ribeirinhos não conseguem escoar sua produção agrícola, o que causa prejuízos à comunidade e aumenta o gasto com gasolina durante a navegação.
A bióloga Gabriela Souza, da SOS Amazônia, explica que as mudanças climáticas são uma realidade e tendem a agravar seus impactos sobre a população amazônica. “Daqui a alguns anos, as secas se tornarão ainda mais evidentes. Estamos falando de um rio de cabeceira e os rios do Acre são considerados “rios novos”, por isso eles não se desenvolvem tão bem como o Rio Amazonas e o Rio Negro, por exemplo, devido a essas interferências naturais e antrópicas”, avalia.
O biólogo Mateus Brito, também da SOS Amazônia, complementa que, além das mudanças climáticas, outros fatores são determinantes para a seca severa. “Não podemos resumir às mudanças climáticas, pois se trata de um processo sistêmico muito amplo que compreende fatores diversos, tais como o assoreamento do rio”, comenta.
O desequilíbrio ambiental, evidenciado pela seca do Rio Tarauacá, afeta as relações comerciais e a vida cotidiana de inúmeras famílias ribeirinhas que residem às suas margens e aguardam esperançosamente pela chuva.